Em terra seca
Búzios
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- Pelo rio abaixo -
Pelo rio abaixo
A relação dos lugares e a música
Ficha Artística e Técnica
Intérpretes/Criadores
Antony Fernandes
Carmina Repas Gonçalves
Daniela Leite Castro
Joana Leite Castro
Participação especial
António Ventura - Barqueiro
Captação e edição de imagem
Abel Andrade
Captação, edição e montagem de som
Daniel Santos
Produção
Alexandra Barbosa
Elaboração de conteúdos pedagógicos
Carmina Repas Gonçalves
Direção Artística e produção
Projecto Cardo
Agradecimentos
Câmara Municipal de Sever do Vouga
Equipa do Turismo do Município
Sr. António Ventura
Filmado em:
Couto de Esteves
Moinho do Estanqueiro
Zona de Fruição de Couto de Baixo
Aldeia do Amial
Miradouro da Senhora da Paz
Silva Escura
Cascata da Cabreia
Cascata da Filveda
Pessegueiro do Vouga
Margens do Rio Vouga
Apoio
Câmara Municipal de Sever do Vouga
Direção Geral das Artes
República Portuguesa
Músicas
Marrafinhas
Sever do Vouga
Eu hei de ir a Arouca (Barquinha)
(letra alterada pela equipa artística)
Sever do Vouga
Carqueja
Sever do Vouga
Objetivos específicos
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Relacionar a natureza com a música
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Experimentar a criação musical espontânea em grupo
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Sentir a liberdade da desinibição e da criatividade
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Experimentar a suspensão e dilatação do tempo musical
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Tomar consciência da estrutura musical de cada canção
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Ter contacto com o património natural, material e imaterial do concelho de Sever do Vouga
Sugestões de exploração dos conteúdos do vídeo em casa ou em sala de aula:
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A relação do ser humano com a natureza foi e será sempre de profunda importância para o bem-estar e a criatividade. Não é por acaso que esta sempre foi uma temática e uma fonte de inspiração para artistas. As nossas crianças não são exceção. Acontece algo de verdadeiramente único quando se alia a criatividade à natureza e existe uma espontaneidade inerente a esta dualidade que é o mote para a criação deste vídeo e dos exercícios que descreveremos nos próximos pontos. Além disso, como seria de esperar, o repertório tradicional português está repleto de referências à natureza, por um lado por uma questão de trabalho e sobrevivência, por outro lado pela profunda admiração pela sua beleza e imensidão. Infelizmente, muitas das nossas crianças foram perdendo este elo e este à vontade com o espaço natural que é urgente recuperar e trazer para a escola e para a vida familiar.
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Para começar a explorar a vida natural local, nada melhor que aproveitar uma visita de estudo ou um passeio para colocar estas ideias em prática. Também estamos sempre à procura de atividades para desenvolver em percursos ou tempos de espera que podem bem ser viradas para a música e para as informações de que dispomos naquele lugar e naquele momento. Essa espontaneidade é fundamental para deixar acontecer um momento criativo que, apesar de ter uma orientação e um propósito, também é imprevisível.
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Começar por observar o que existe à vossa volta; o que se vê e o que não se vê mas que sabemos que anda por aí. É importante despertar todos os sentidos para conseguir descodificar cada elemento desse lugar: se há cheiros, que cores há, que texturas, que objetos, que sons. Podem experimentar fechar os olhos, tapar os ouvidos, adivinhar texturas só com o tato, etc. As crianças adoram usar os seus sentidos. Depois descobrir quais desses elementos podem integrar a nossa música: há sons que já lá estão e que temos de integrar na nossa criação musical, outros que podemos produzir utilizando as texturas e a combinação de objetos (pedras, folhas, conchas, paus, água e outros elementos que possam encontrar). Num ambiente urbano é mais difícil falar de natureza, mas as cidades também têm imensos sons e as crianças levam sempre alguns objetos que podem produzir som nas suas visitas de estudo. À falta de melhor, usem esses recursos.
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Depois de algum tempo para conversarem, ouvirem, sentirem o lugar onde estão, tentem começar a organizar esses sons: de que forma integramos os sons que não controlamos, como é que eles nos podem dar ideias para construir a nossa textura sonora. Cada criança ou cada grupo de 2 ou 3 crianças pode ficar responsável por um tipo de som, por exemplo. Esse som pode ser definido pelos objetos que usam ou pela forma como produzem o som (bater, raspar, abanar, etc), etc. Se não houver nenhum objeto para usar, podem explorar os sons do corpo (mãos, boca, mãos no peito, mãos nas calças, pés no chão, etc). Podem também dedicar algum tempo a ouvir os sons de todos e fazerem uma montagem dessa textura sobrepondo ou articulando os mesmos.
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Chegou o momento de aprenderem algumas das canções de que dispomos neste vídeo: Marrafinhas, Barquinha e Carqueja. Podem, em cada uma, encontrar a sua forma (se tem ou não refrão, quantas partes tem, se há repetições, se têm pequenas diferenças ou se são iguais, etc) e explorar as possibilidades de introdução das texturas que criarem com os objetos e sons da natureza para embelezar, para ajudar a memorizar a estrutura e para dar dinâmica à música.
Marrafinhas
A primeira música (Marrafinhas), parece mais simples do que é. O texto é fácil de memorizar porque as crianças costumam gostar do desafio de cantar com números. No entanto, tem algumas particularidades rítmicas e melódicas que podem ser muito intuitivas para alguns e muito confusas para outros. De qualquer forma, sendo uma canção tradicional, importa principalmente que oiçam e tentem reproduzir, mesmo que não fique tal e qual a partitura e a gravação. Para ajudar a memorizar, podem introduzir alguns gestos ou movimentos que façam sentido com a letra ou com o movimento da melodia (ascendente, descendente, por exemplo). Com esta canção até podem fazer alguns jogos de pergunta resposta, como aparece no vídeo (uma pessoa ou um grupo canta uma estrofe, os outros juntam-se no refrão); durante as estrofes uns cantam e os outros exploram as texturas de que dispõe para fazer o acompanhamento; quando cantam todos o refrão, procuram uma textura mais regular e homorrítmica para ser fácil de coordenar com a sua própria voz. Tendo em conta que a canção acaba no número 7, pode ser um desafio divertido inventar o resto da canção até ao 0.
1 - Ai para fazer um doce,
Eram vinte marrafinhas,
Ai para fazer um doce
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só doze. (2x)
2 - Dessas doze que elas eram,
Mandei-as vestir de bronze. (2x)
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só onze. (2x)
3 - Dessas onzes que elas eram,
Mandei-as lavar os pés (2x)
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só dez. (2x)
4 - Dessas dez que elas eram
Mandei-as ir pró pagode (2x)
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só nove. (2x)
5 - Dessas nove que elas eram
Mandei-as ir aos biscoitos (2x)
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só oito. (2x)
6 - Dessas oito que elas eram
Mandei-as fazer um frete (2x)
Refrão
Mas deu-lhe uma abanada,
Vira tirana
Já são só sete. (2x)
Barquinha
A segunda canção (Barquinha) tem a particularidade de brincar com a dilatação do tempo, algo que é muito comum na música vocal da região. A canção está dividida em duas partes: a primeira parte está em compasso ternário, sendo que em cada estrofe duas frases são rápidas e duas são mais espaçadas ritmicamente; a segunda parte está em compasso binário simples, novamente com as duas primeiras frases mais rápidas, e as segundas duas frases mais espaçadas. Nesta canção, o mais simples do ponto de vista da utilização dos objetos e sons da natureza, é criarem uma textura rítmica mais regular nas partes mais rápidas e mais livres e suaves nas partes mais lentas.
Primeira parte (compasso ternário)
1 - Ai rema que rema
Vamos navegar (2x rápido)
Bota a vara ao rio
Vamos passear. (2x lento)
2 - Ai rema que rema
No Vouga meu bem (2x rápido)
Diverte-te e passa
Por lá muito bem (2x lento)
3 - Ai rema que rema
Ó senhor barqueiro (2x rápido)
Traz as novidades
Dos lados de Aveiro (2x lento)
Segunda parte (compasso binário)
4 - Ai a barqueirinha
Anda a navegar (rápido)
Mal a barca vira
Eu não sei nadar. (lento)
5 - Mal a barca vira
eu não sei nadar (rápido)
Se eu cair à água
Vou parar ao mar (lento)
Carqueja
A terceira canção (Carqueja), é a que tem maior irregularidade rítmica (tendo várias alterações de compassos) e tem também, em todas as estrofes, uma suspensão: umas na palavra ROSA e outra na palavra NOVO. As sílabas “Ro” ou “No” podem ser estendidas pelo tempo que se quiser, sendo por isso uma boa oportunidade para preencher esse tempo com sons e para trabalhar a sincronia e sensibilidade coletiva. Em todos os grupos (quer sejam adultos, quer sejam crianças), há pessoas com maior tendência para liderar, outras para serem lideradas. Estes momentos de suspensão são interessantes para trabalhar esse sentido de liderança também em quem tem maior dificuldade. Pode ser interessante experimentar não dizer quem lidera e ver o que acontece e depois dar essa responsabilidade a alguém em concreto. Do ponto de vista rítmico, o melhor é conhecer bem a canção porque estando interiorizada, o acompanhamento rítmico acaba por sair naturalmente.
1 - Tenho o meu sapato roto
De andar na serra à carqueja (2x)
Dá-me um beijinho ó Ro………sa
Da forma que ninguém veja (2x)
2 - Tenho o meu sapato roto
De andar na serra ao carvão (2x)
Dá-me um beijinho, ó Ro……..sa
Do fundo do coração (2x)
3 - Ó que chita tão bonita
Para fazer um vestido (2x)
Para fazer um lenço no…….vo
Para dar ao meu marido (2x)
Relativamente a questões de desinibição e liberdade criativa, algumas destas experiências já vão ajudar, sobretudo se deixarem mesmo as crianças tomarem conta do processo criativo. Ainda assim, podem haver algumas com muita dificuldade em encontrar o seu espaço nesse processo, sobretudo se houver outros que sejam muito expansivos. A nossa sugestão é que tirem algum tempo para fazer alguns jogos em círculo nos quais todas as crianças têm de fazer um som para todos repetirem ou dizer uma palavra relacionada com um tema escolhido pelo grupo (Ex. tema: árvore; criança 1 – tronco; criança 2 – folha; criança 3 – esquilo; etc). O mais importante nestes jogos é obrigar os mais irrequietos e faladores a ouvir os colegas e os mais sossegados a falarem e habituarem-se a ser ouvidos. Quanto mais vezes realizarem este tipo de jogos, mais frutos vão trazer. Se conseguirem integrá-los nas rotinas semanais, quando precisarem que eles se oiçam e se sintam desinibidos uns com os outros, vai ser automático. Mais, tudo o que possam fazer para que sejam eles a tomar decisões, a escolher cores, materiais, sons, palavras, vai contribuir para que se sintam mais confiantes, mais criativos e mais unidos. É possível que nestes processos eles façam comentários ou críticas desnecessárias; o mais importante é, mais do que impedir que o façam, que esse tipo de participação seja construtiva e no sentido de melhorar a experiência criativa e não para criticar este ou aquele colega. Serem críticos e exigentes é ótimo, desde que não sejam ofensivos.